26.3.12

Permissão negada.

Não tenho mais acesso ao que, de fato, me pertence.

Erro de conexão

Depois de dois dias sem falar com ele, liguei.
A operadora de celular logo se adiantou em informar:
"Erro de conexão".
Então, é esse o nosso problema? Essa é a causa do nosso desencontro? Logo ele e eu que sempre fomos tão conectados, sem ruídos e falhas.
Eu, que esperava por respostas há tempos, desisti de ligar novamente.

21.3.12

19.3.12

13.3.12

Eu não ia dizer. Ele disse.


Me entende, eu não quis, eu não quero, eu sofro, eu tenho medo, me dá a tua mão, entende, por favor.
Eu tenho medo, merda!
Ontem chorei.
Por tudo que fomos.
Por tudo o que não conseguimos ser.
Por tudo que se perdeu.
Por termos nos perdido.
Pelo que queríamos que fosse e não foi.
Pela renúncia.
Por valores não dados.
Por erros cometidos.
Acertos não comemorados.
Palavras dissipadas.
Versos brancos.
Chorei pela guerra cotidiana.
Pelas tentativas de sobrevivência.
Pelos apelos de paz não atendidos.
Pelo amor derramado.
Pelo amor ofendido e aprisionado.
Pelo amor perdido.
Pelo respeito empoeirado em cima da estante.
Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda-roupa.
Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados.
Pela culpa.
Toda a culpa.
Minha. Sua. Nossa culpa.
Por tudo que foi e voou.
E não volta mais, pois que hoje é já outro dia.
Chorei.
Apronto agora os meus pés na estrada.
Ponho-me a caminhar sob sol e vento.
Vou ali ser feliz e já volto.

- Caio Fernando Abreu -

9.3.12

Não te enxergo bem.

Te vejo de longe. Sou míope. Sem os óculos, não enxergo bem. Por isso, chego perto. Mas você se afasta. Não te enxergo bem. Nada fica nítido. Perco os detalhes. Você está longe. É difícil te ver.


3.3.12

Da querida máquina de tortura.


Minha querida máquina de tortura. Foto: Jéssica Raphaela

Eu devia ter uns 13 anos quando peguei a gilette da minha mãe escondida e passei nas pernas. Tão novinha, já me incomodava o fato de ter pelos no corpo. Não lembro a razão do incômodo, mas ele existia. A questão é que eu sabia que em algum momento eu teria que começar a me depilar com frequência. Isso acontecia com toda mulher. Era um requisito para crescer. E eu queria ser grande.

Aqui no alto dos meus 22 anos, aproveitei a manhã de sábado para usar minha máquina de depilação. Eu precisava de um dia de SPA. Mas o fato é que eu detesto salões de beleza, então me viro por aqui mesmo. Quando tinha 17, meus pais me deram a máquina. Eu já tinha usado a da minha prima umas duas vezes e provei que era capaz de suportar a dor de ter meus pequenos fios de cabelo arrancados pela raiz.

Máquinas de depilação são torturadores corroborados pela sociedade. Mas o fato é que eu ficaria com a pele lisa por mais tempo e não teria que usar as lâminas que tanto irritavam minha pele. Mulheres aceitam a dor em troca da beleza com frequência e há séculos. Agradeço por não ter nascido em épocas mais duras para o sexo feminino. Além disso, sou incapaz de depilar com cera. Tentei uma vez e a sensação não foi nada boa. Preferi a máquina.

O meu pequeno aparelho é rosa, com um massageador que supostamente alivia a dor. Parece inofensivo. Mas não se engane. Dói... e dói com gosto. No começo, era música alta no som, muitos palavrões na mente, e umas três pausas com direito a uma caminhada pela casa. Com o tempo, você se acostuma com a dor e depila em questão de minutos. Nem sofre tanto mais.

Sim, eu faço parte da ditadura da beleza. Mas na ditadura branda. Me depilo porque Deus me livre de ficar com a perna cabeluda. Mas às vezes me dou o luxo de ser um pouco desleixada. Tem dias que coloco um jeans, uma camiseta e deixo a maquiagem no armário. O cabelo vai do jeito que eu acordei mesmo. Tem dias que respirar basta e me sinto bem apenas com o ar nos pulmões.

Mas aprendi que estar bonita faz eu me sentir melhor – desde que esteja confortável. Coloco um salto, um vestido curto, aproveito meus cachos para um penteado legal e passeio por aí. Aprendi a valorizar minha beleza. Aprendi a melhorar o que eu sou. Alguns sacrifícios são exigidos. Mas tento amenizá-los. Não faço nada só para caber em padrões de beleza (só às vezes, vai!), apenas quando esse padrão me agrada. Fujo deles o máximo que posso e me uso como ponto de partida.

Minha ditadura é consciente. Sempre reflito sobre ela enquanto minha maquininha da tortura arranca meus fios pela raiz. No final, aceito. A pele fica tão lisinha, sabe?! E é tão bom sair por aí mostrando as pernas.

2.3.12

Da companhia para minha solidão.

Na rua, ele me dá a mão. Passeia comigo por aí, sem pudor, sem vergonha. Senta comigo em um banco qualquer no meio da cidade, me faz rir, chorar, me deixa sem ar. O nome muda às vezes, mas é sempre ele, o livro, me fazendo companhia nos momentos mais necessários.

De um tempo para cá, aceitei minha solidão. Sou, por natureza, sozinha. Culpa da minha timidez, talvez. E fique sabendo que a solidão, quando não opcional, é bem cruel. Estar sozinha num mundo onde todos têm companhia é quase um castigo. Me cobro, por observar a felicidade alheia. Me cobro ousadia, extroversão. Mas não sou assim. E coisa difícil nesta vida é tentar ser o que não se é.

No meio da multidão, quem me abraça é a solidão. Mas o livro, que está ali ao meu lado, é quem me tira a preocupação de estar só. Com ele, a solidão é prazerosa. Aceito-me num mundo que mistura o meu e o de outros personagens. Ali parada, viajo a cem por hora em lugares novos, converso com pessoas que desconheço, faço novos amigos, me identifico naquelas criaturas fictícias, ou reais, dependendo da história.

Sento numa praça, pessoas vêm e vão. Eu fico parada. Observo. Gosto de observar. Mas quando olhar para o mundo me dói, recorro a histórias que não são minhas. Não são minhas em parte, porque, com o tempo, começo a vivê-las também. Aos poucos, as histórias se tornam minhas, ou eu me torno parte delas, não sei bem. Lá me refugio.

Do lado de cá, nem percebo que passei esse tempo todo só, ou melhor, perceber eu percebo, mas não me incomodo. Assim sigo, não mais sozinha, e sim acompanhada de mim mesma.

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